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Pesquisadores do NEPAM publicam na revista Environmental Sociology

O artigo “Ecological Civilization in the making: the ‘construction’ of China’s climate-forestry nexus” é fruto da colaboração entre pesquisadores do Environmental Policy Group de Wageningen, Holanda e o Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais NEPAM. A pesquisa aponta para a importância das intervenções de política florestal na China para a discussão global de mitigação da emergência climática. O projeto de pesquisa, com financiamento da FAPESP, trata do nexo floresta-clima e contribui para a discussão de casos sub-representados do Sul Global e de países não-ocidentais sobre risco e globalização na sociologia ambiental. Confere a publicação de livre acesso no último volume da revista Environmental Sociology.

 


Mudança líquida na área florestal, 2015. Especificamente, expansão florestal ( através de florestação ou expansão natural) menos desmatamento. Fonte: Our World in Data, utilizando dados da FAO, CC BY.

 

Os debates sobre os riscos climáticos globais na era atual do Antropoceno cada vez mais estão tomando o carbono como medida de sucesso político. Essas estratégias de mitigação são baseadas principalmente em mudanças no uso da terra, como o florestamento, recebendo um destaque particular. Enquanto cientistas e formuladores de políticas no Norte Global ainda discutem a silvicultura como potencial solução climática, a China já vem implementando grandes projetos florestais há décadas, transformando drasticamente seus ecossistemas sob o ideal da “Construção de uma Civilização Ecológica” até o centenário da fundação da República Popular em 2049. O artigo encabeçado pelo doutorando Niklas Weins do nosso Programa Ambiente e Sociedade durante um estágio de pesquisa BEPE mostra o paradigma global emergente da Civilização Ecológica da China e suas implicações para o nexo climático-florestal.

Junto com as co-autoras Profª Annah Zhu e Qian Jin da Wageningen University and Research, Holanda e Fabiana Barbi e Profª Leila da Costa Ferreira do NEPAM são traçados paralelos com o conceito de ‘metamorfose’ de Ulrich Beck (2016) e o conceito de ‘mutação’ de Bruno Latour, argumentam que a Civilização Ecológica chinesa aspira a uma transformação fundamental na visão do mundo – mas que é promovida como uma alternativa de desenvolvimento que é distintamente não-ocidental.

Usando o caso da silvicultura que a Profª Zhu estuda no seu projeto “Repensando a China globalizada e o ambiente: combatendo as mudanças climáticas através de Grandes Muralhas Verdes” com financiamento do Conselho Holandês de Pesquisa (NWO) as autoras iluminam as características potencialmente únicas do ambientalismo chinês como encapsulado na Civilização Ecológica. As análises afirmam que essa utopia programática proporciona um papel forte para o Estado central na construção ativa (jianshe 建设) de um futuro ecológico no qual o natural e o sócio-político não são considerados separados.

Isto contrasta com certas visões ocidentais de preservar a natureza da invasão humana através de movimentos ambientais de raiz. O time de pesquisa conclui destacando as contribuições teóricas que debates mais pluralizados sobre a ascensão ambiental da China poderiam trazer para a sociologia ambiental.

 


Valor do Investimento Global em Serviços de Bacias Hidrográficas por Região, 2009-2013. Com base em 454 programas rastreados, avaliados em $12.3B em 2013. Fonte: Banco Asiático de Desenvolvimento 2016.

 

O caso do nexo entre clima e floresta – em particular os esforços de reflorestamento e compensação ecológica em larga escala da China – oferece um rico terreno empírico para explorar as implicações globais da Civilização Ecológica. No final dos anos 2000 a China se tornou um investidor em conservação pública de bacias hidrográficas, a maioria das quais foi feita por plantio de árvores (ADB, 2016). O plantio de árvores em larga escala, incluindo reflorestamento, florestamento e restauração de ecossistemas, tornou-se um dos temas mais quentes e controversos nos debates climáticos globais nos últimos cinco anos. Um artigo de 2019 (Bastin et al., 2019) provocou grande parte da controvérsia, sugerindo que o plantio de 0,9 bilhões de hectares de florestas em todo o mundo é um dos meios mais baratos e viáveis de combater a mudança climática à luz das enormes barreiras políticas para reduzir o consumo de combustíveis fósseis (Bastin et al. 2019). A cobertura da mídia do estudo observa que o plantio de árvores em larga escala não é apenas uma solução para a mudança climática, mas “esmagadoramente a mais importante”, com “potencial de redução de emissões” (Carrington 2019).

As controvérsias em torno deste tipo de plantação de árvores em larga escala para mitigar o aquecimento global abundam. Enquanto alguns estudos contestam o potencial de sequestro de tais projetos, ao mesmo tempo que enfatizam impactos potencialmente adversos na biodiversidade e na sociedade (Hua et al. 2016; Delang 2019; Zeng et al. 2020), outros afirmam os impactos benéficos da plantação de árvores já em curso na mitigação do clima (Lewis et al. 2019; Tong et al. 2020; Zhu et al. 2020). Grande parte desta controvérsia tem sido gerada em relação à China, o país envolvido em tais projectos de plantação de árvores em grande escala.

Para ler a discussão toda e suas implicações, confere o artigo completo aqui na revista Environmental Sociology: Ecological Civilization in the making: the ‘construction’ of China’s climate-forestry nexus.