Estudo mapeia mudanças climáticas de Campinas nos últimos 25 mil anos
Um estudo desenvolvido no Instituto de Geociências da Unicamp durante a dissertação de mestrado de Adriana Mercedes Camejo Aviles, orientada pela docente Fresia Soledad Ricardi Torres Branco, revelou dados importantes sobre a evolução das mudanças climáticas da região de Campinas nos últimos 25 mil anos. A descoberta foi publicada em um artigo em meados de novembro no Brazilian Journal of Geology e é também assinado pelos pesquisadores Marie-Pierre Ledru, do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), que mantém parceria com o IG, e por Luís Carlos Bernacci, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Os resultados mostram uma sequência de mudanças na vegetação e no clima, revelando a evolução de um período mais seco para um mais úmido.
A pesquisa foi feita na Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas, próximo ao campo dos Amarais, em Campinas. Apesar de condições climáticas mais secas terem sido registradas há 25 mil anos, havia picos de umidade capazes de manter uma floresta aberta. “Naquela área, há uma mata ciliar com um riacho que faz parte do ribeirão do Quilombo. As curvas vão formando lagos, onde se acumulam matéria orgânica. Os pólens das plantas e pedaços de folhas e troncos vão se depositando e, ao longo de milhares de anos, registram a vegetação que existia na área”, explica a docente Fresia Ricardi. O registro é feito por níveis, do mais velho para o mais novo. Ao analisar de centímetro em centímetro, por conta da lenta deposição, é possível identificar como era a vegetação em diferentes períodos de tempo.
“Como é um material de um período recente, foi possível datá-los por C14, que registra dados de até 60 mil anos atrás. O C14 é um isótopo radioativo do Carbono que degrada ao longo do tempo e se transforma em outro isótopo. Ao se medir a idade do isótopo pai e do isótopo filho, é possível avaliar quanto tempo se passou de acordo com a queda da taxa de decaimento radioativo”, revela Fresia. Segundo a docente, na coleta feita na mata do IAC, foi possível recuperar um testimônio de 182 cm. “Datamos por C14 e analisamos pólen nos primeiros 90 cm e os isótopos estáveis de Carnabo13 e Nitrogênio 15 em todo o registro. Identificamos as mudanças na vegetação e comparamos com a atual, o que nos permitiu analisar essa evolução”, diz.
Os registros palinológicos permitem inferir as mudanças do clima. “Dependendo do tipo de assembleia polínica identificada, há um ou outro tipo de mata. De 25 mil a 13 mil anos atrás o rio foi mudando. Os resultados isotópicos indicaram um clima seco”, explica Fresia. Plantas da família Arecaceae, que são palmeiras, existem hoje no local, mas no período mais seco quase não tinha. De 4 mil anos até os dias atuais foi possível identificar um incremento da umidade. O clima mudou e tem intervalos com partes mais secas e mais úmidas. “Hoje estamos num intervalo mais úmido, mas há possibilidade de vir um intervalo mais seco porque são as oscilações do clima”, destaca.
Segundo Fresia, não é possível fazer esse tipo de análise em qualquer local que haja meandros, pois é preciso ter uma vegetação natural preservada, que não sofreu intervenção humana. A colaboração do IAC foi fundamental para a descoberta. Os pesquisadores tinham um projeto FAPESP em andamento (“Water in soil morphology associated with the physiognomic gradient Riparian Forest — Cerrado in Campinas, SP”) que permitiu a perfuração do testimônio.
A descoberta também contou com a colaboração do Herbário do Instituto de Biologia da Unicamp. O grupo do IG identificou as plantas na região, coletou flores e levantou os tipos de pólen que poderiam ser encontrados nos sedimentos. “As flores desses polens foram identificadas corretamente na sistemática pelo Herbário do IB, que gentilmente colaborou para a pesquisa”, finaliza.